Capa

ADC do Vale é o primeiro clube federado do Vale do Ribeira

05.05.2021  |    56 visualizações

A criação da equipe, filiada a Federação Paulista de Atletismo, busca o desenvolvimento da modalidade ao juntar e valorizar os projetos sociais em cidades como Apiaí, Cajati, Juquiá e Miracatu, dentre outras

Bragança Paulista - A ADC do Vale, em Cajati (SP), é o primeiro clube federado do Vale do Ribeira. A história dessa filiação é especial porque a equipe é formada por projetos sociais de cidades como Apiaí, Cajati, Juquiá e Miracatu, dentre outras, que participavam do Circuito de Atletismo Vale do Ribeira, mas estavam fora do sistema federativo. A sede da ADC do Vale é em Cajati, na pista Rosemar Coelho Neto, que é oficial, mas não é sintética, e o clube é o caminho dos atletas para as competições estaduais e nacionais e as seleções brasileiras.

A ADC do Vale foi federada após conversas, por cerca de três anos, envolvendo personagens que atuam na região, como a medalhista olímpica Rosemar Coelho Neto, os ex-atletas Julio Cesar da Costa e Rogério Bispo e Erivan Carneiro, atual integrante do Conselho Fiscal da CBAt. Wlamir Motta Campos, presidente do Conselho de Administração da CBAt, que também participou do processo de filiação à Federação Paulista de Atletismo, em setembro de 2020, é o padrinho. Milton Pereira de Lima Filho é o presidente do clube.

"O mais interessante no desenvolvimento do atletismo do Vale do Ribeira é perceber que o clube ADC do Vale é fruto da união de projetos de inclusão social pelo esporte desenvolvidos na região", confirma Wlamir Motta Campos, que já foi homenageado com um festival que levou o seu nome.

Rosemar, 44 anos, que integra o Conselho de Administração da CBAt como representante dos medalhistas olímpicos, comenta que no ano passado, quando foi auxiliar na gestão do projeto de Cajati, enviada pelo SESI, surgiu a possibilidade de regularizar o estatuto do clube. "Conversando com todos, com desconto da Federação Paulista e um patrocinador que pagou a filiação, nasceu o primeiro clube do Vale do Ribeira”, conta Rosemar. “Para fazer com que nossos jovens atletas possam competir filiados pelo Vale do Ribeira. Eu sai daqui com 15 anos e as pessoas só souberam que eu era daqui quando eu voltei.”

Rosemar trabalha com atletismo no Sesi de Registro, que também pode competir pelo ADC do Vale – "é uma segunda opção", afirma – assim como os atletas dos demais professores que fazem atletismo no Vale, das cidades de Apiaí, Cajati, Juquiá e Miracatu, mas também de Itariri, Registro, Sete Barras e todas as outras. “É aberto a todos, vai contribuir para o nosso desenvolvimento porque fazíamos a formação e eles iam embora. Vamos conseguir patrocínio com as empresas daqui, fazer projeto de lei de incentivo, é uma porta a mais para a manutenção do atletismo”, ressalta Rosemar. 

Apontado como peça fundamental para o atletismo da região e o surgimento da ADC do Vale Júlio Cesar da Costa, de 52 anos, campeão paulista, brasileiro e bicampeão sul-americano do salto triplo, foi revelado num campeonato escolar, em 1986, e convidado por Roberto Dick para compor a equipe de Cubatão – lá conheceu e foi colega de equipe de Wlamir Motta Campos,do arremesso do peso. Atuou também no Pão de Açúcar Esporte Clube, Eletropaulo e encerrou carreira na Funilense, em 1993. Voltou para Miracatu, sua cidade natal, formado em Educação Física. É também formado em Letras, pós-graduado em Literatura, e trabalha com cultura popular, pesquisa e historiografia linguística.

Começou a desenvolver o atletismo em Juquiá, num projeto da Prefeitura, há mais de duas décadas. “O Rogério Bispo apareceu com 14 anos, era goleiro de futsal, e com 19 anos saltou 8,05 m. Se transferiu para o Projeto Futuro, foi treinar com o Nélio Moura, mas o trabalho de formação foi aqui”, relata Julio Cesar.

Em Juquiá, na Vila Olímpica Dondinho, coordena um dos Centros de Formação do Atletismo do Brasil, numa parceria com escolas próximas, local que tem outros esportes também (handebol, futsal e natação), "mas uma identidade com o atletismo".

“Apareceu o professor Erivan Carneiro com um trabalho em Cajati, divisa no Paraná, numa escola rural, com uma clientela grande. A gente federava por Cubatão, Itapetininga, pelo IEMA, porque não tínhamos um clube do Vale”, lembra. “A Rosemar também começou a desenvolver um trabalho em Miracatu. Tínhamos o núcleo de Juquiá (eu), Miracatu (Rosemar) e Cajati (Erivan). Com a professora Lia Oliveira nasceu um projeto em Apiaí. Precisávamos de uma representatividade”, ressalta Julio. 

Ainda fortalece o foco social dos projetos. “Envolvem educação e cultura, como poesia e literatura. São coisas que temos de passar para os jovens, para que entendam o seu espaço, valorizem o seu local, com o envolvimento das Prefeituras”, acentua.

Um dos destaques de Juquiá - apesar de ser um projeto social revela talentos – é o decatleta Arnaldo Kowales Junior, campeão paulista sub-18 e sub-20, 5º no Brasileiro Sub-20, e 5º no Ranking no decatlo e ranqueado em várias provas, como salto em altura e salto com vara e que sonha com o índice para o Pan-Americano Sub-20 de Santiago, no Chile, em outubro. “O Vale do Ribeira sempre foi um celeiro, mesmo sem ter uma pista oficial - daqui saíram eu, Rosemar, Rogério Bispo e outros -, temos um DNA de atletismo." Em Cajati surgiu Emanueli Cristine de Christo dos Santos, 17 anos, 4ª no Brasileiro Sub-18, no peso, 8ª no Sub-20.

Julio Cesar e Erivan Carneiro também criaram, em 2017, o Circuito Vale do Ribeira, que teve parceria da ADAB (brindes, medalhas, tênis etc), da faculdade de Educação Física da região (arbitragem) e a participação de mais de 100 crianças logo de cara e mais de 300 na sequência. 

Rogério Bispo, 35 anos, vice-presidente e diretor executivo da Federação Paulista de Atletismo, tricampeão sul-americano do salto em distância, outro expoente do atletismo do Vale do Ribeira, afirma que sua ligação com a região “é da vida”. Nasceu em Juquiá, onde teve seu primeiro contato com o atletismo e o treinador Julio Cesar Costa – “meu mentor”. “Quando comecei a competir tinha a Rosemar, na BM&F, em São Paulo, como referência, mas não havia uma equipe para competir pelo Vale”, comenta.

Rogério teve a mesma trajetória de Julião, como é chamado pela comunidade atlética, e Rosemar, começando por Cubatão. Doava material, fazia palestras, abertura dos Jogos Escolares, ajudava com contatos, hospedagem e alimentação. Ao assumir a Secretaria de Esportes de Juquiá, em 2017 e 2018, ajudou a fortalecer o atletismo com o Circuito do Vale. “Era para fazer a molecada competir e participar do atletismo, com viagens curtas, e aumentar o número de projetos no Vale.”

Com a criação do clube ADC do Vale afirma que "atletas iniciados no Vale podem ter uma carreira no Vale". Destacou a força dos projetos sociais, que "mostram aos políticos, gestores e sociedade que o atletismo é um esporte democrático, barato e com retorno rápido, de educação e inclusão, mas que revela talentos. Eu mesmo fui descoberto em 2001 e em 2004 já era finalista em Mundial."

A professora Lia Oliveira nasceu em Apiaí para onde voltou formada em Educação Física em 2018, para propor um projeto de formação para a Prefeitura. Mudou para Cabreúva (SP), aos 5 anos, foi atleta de marcha atlética. O material conseguiu com uma rifa, começou a trabalhar num campo de futebol “sem pista” e com os alunos construiu uma caixa de areia de saltos. E encontrou na medalha de ouro olímpica de Thiago Braz do salto com vara, ganha nos Jogos do Rio, em 2016, o mote que precisava para encantar crianças. “Ninguém sabia o que era atletismo, e ele foi minha referência para apresentar o atletismo”, comenta Lia, que conhecia  Thiago de competições que disputava, como os Jogos Regionais. Chegou a levar seus alunos para ver Thiago Braz saltar no GP Brasil e no Troféu Brasil, em Bragança Paulista.

“A ADC do Vale representa competir um Brasileiro, ter sonhos”, afirma. Os seus alunos disputavam o Circuito do Vale, os Jogos Regionais e Escolares, o Circuito de Sorocaba, mas “agora como toda equipe federada consegue pensar num Brasileiro”. Citou como destaque de seu projeto o atleta Domini Mendes, de 18 anos, que vai competir a prova de obstáculos no Campeonato Brasileiro Prevent Senior Sports de Atletismo Sub-20, de 21 a 23 de maio.

Erivan Carneiro é de Cajati onde está a sede da ADC do Vale. “É a casa”, afirma. “A casa do atletismo no Vale do Ribeira.” Define a união dos projetos sociais da região no novo clube federado de uma forma simples: “Cada um faz o seu prato e vai comer junto. Era uma batalha antiga do Julião, minha, da Rosemar...”

Erivan jogava handebol e morava em São Vicente (SP), quando decidiu, em 2006, ir para Cajati. Passou num concurso público para ser professor – escolheu Cajati e uma escola na Vila Tatu, zona rural, a Escola Estadual Vereador José Rodrigues de Freitas. Sua ideia era fazer o melhor time de handebol do Vale do Ribeira, mas quando viu que as crianças “eram serelepes e jogavam no barro, não tinha tempo ruim para elas” optou pelo atletismo. Recentemente inaugurou uma área de lançamentos e arremesso e uma 'pista', construídas na enxada no quintal da escola da Vila Tatu.

O Vale do Ribeira, onde vivem comunidades indígenas, quilombolas, caiçaras e imigrantes e está grande parte da mata atlântica remanescente no Brasil, um ecossistema formada por florestas, restingas e manguezais, foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade em 1999 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Sem industrialização, é uma das regiões mais pobres do Estado de São Paulo, cenário para o atletismo atuar como canal de educação e inclusão social. 

Assessoria de Comunicação: Heleni Felippe -helenifelippe@cbat.org.br - (11) 99114-1893 e (11) 99142-2951; João Pedro Nunes - joaonunes@cbat.org.br - (11) 99158-8337 e Maiara Dias Batista - maiara@cbat.org.br - (11) 99127-2369.

 

 

 

 

 

 

 

Leia também...
28.07.2023

A homenagem feita a Dietrich Gerner, treinador do bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva, e que foi escolhido como 'lenda' da América do Sul pela World Athletics foi entregue ao clube pela CBAt e Federação Sul-Americana

30.04.2023

O brasileiro somou 7.784 pontos no Guarda Stars 36º Multistars, em Desenzano Del Garda, no fim de semana (29 e 30/4) e tem o foco na disputa da competição do Chile, em outubro e novembro

02.04.2023

Competição foi disputada neste fim de semana no Centro Nacional Loterias Caixa de Desenvolvimento do Atletismo, em Bragança Paulista; as provas foram muito disputadas e Baloteli dedicou a vitória a sua filha que vai nascer nesta semana

22.08.2022

O cuidado integral do atleta é o conceito do trabalho desenvolvido no espaço, localizado no Ibirapuera, em São Paulo, para atletas de alta performance e amadores usuários do plano de saúde; atletismo registra 500 atendimentos por mês, em média