Bragança Paulista – O paulista Alison Brendom Alves dos Santos conseguiu na madrugada desta terça-feira (3/8), no horário de Brasília, a primeira medalha do Brasil no atletismo nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a primeira na história dos 400 m com barreiras e a 18ª da modalidade em todos os tempos. Ele garantiu o bronze ao completar a prova em 46.72 e conseguir pela sexta vez o recorde sul-americano nesta temporada, mostrando, aos 21 anos, a sua incrível evolução no esporte.
Alison comemorou muito o resultado, de início na pista e depois com um pequeno grupo de brasileiros que estava no Estádio Olímpico do Japão. “O que passou na minha cabeça quando eu passei a linha é que nós somos medalhistas olímpicos e quando acabei a prova vi que tinham pessoas muito importantes pra mim no telão me assistindo, se emocionando com o que a gente fez. Eu não estou aqui só por mim. Eu corro por outras pessoas também, meu treinador, minha família, meus patrocinadores, todo mundo que gritou e torceu por mim. Eu não represento só o Alison e o atletismo, represento uma nação e eu tenho eles comigo, recebi o carinho das poucas pessoas que tem do Brasil aqui, ainda mais por não ter público. As poucas pessoas do Brasil aqui fizeram a grande diferença gritando. Essa medalha não é só minha, é do Brasil”, comentou, tão emocionado, que esqueceu de fazer a “dancinha” que havia planejado - "acompanhe nas redes sociais".
Piu, como é conhecido no atletismo, demonstrou toda a sua felicidade. “Conversei com meu pai e minha mãe (Gerson e Sueli) uns dias antes e corro por eles também. Corro pelo Gersão. Estou louco para voltar para São Joaquim da Barra jogar um truco, gritar um seis na orelha dele. Muito feliz. Quero rever meus irmãos, meus vizinhos de São Joaquim da Barra”, disse, referindo-se à cidade em que nasceu no dia 3 de junho de 2000.
A medalha de ouro foi conquistada pelo norueguês Karsten Warholm, que bateu o seu próprio recorde mundial, com o tempo de 45.94, e a prata ficou com o norte-americano Rai Benjamin, com 46.17 – os dois eram os grandes favoritos e junto com Alison protagonizaram a prova mais forte de todos os tempos dos 400 m com barreiras.
"O que foi isso hein? Foi sensacional! Surreal, uma palavra que define tudo", comentou o treinador Felipe de Siqueira.
“Quando acabou a prova eu olhei para o telão, vi que tinha ficado em terceiro, olhei pro telão e vi 45... Achei que estava na prova errada. Não é 400 m com barreiras isso aqui não. O Warholm estava na pressão e fez o que todos achavam que era impossível com o recorde mundial”, comentou. “Eu estava leve. Eu carrego pessoas comigo, mas elas estão aqui para me impulsionar. Me ajudaram a manter o pé no chão. Tenho de agradecer ao Edson Luciano e ao Instituto onde eu fui descoberto, à Prefeitura de São Joaquim da Barra, onde comecei.”
Alison se lembrou de muita gente. “Quero agradecer meus patrocinadores e integrantes da Comissão Técnica e ao treinador Felipe de Siqueira. Preciso ir tomar banho, trocar de roupa, tenho de ir lá me arrumar para o pódio”, brincou.
Para chegar à medalha, Piu correu as eliminatórias, na quinta-feira (29/7), em 48.42, e as semifinais no domingo (1/8) em 47.31, quando quebrou novamente o recorde sul-americano. Concentrado nos 400 m com barreiras, Alison teve de abrir mão de integrar o revezamento 4x400 m misto, prova da qual é medalha de prata no Mundial da Silésia, disputada em maio, na Polônia.
O atleta, de 2,00 m e 76 kg, conta que gosta de sonhar alto. “Temos de pensar grande e trabalhar muito para alcançar esses sonhos”, afirmou. “Em 2019, meu objetivo era ganhar o ouro no Pan-Americano Sub-20, acabei ganhando e depois venci os Jogos Pan-Americanos, o Sul-Americano, a Universíade e fui finalista no Mundial de Doha.”
Medalha de ouro no revezamento 4x400 m misto no Mundial Sub-18 de Nairóbi-2017, no Quênia, e bronze nos 400 m com barreiras no Mundial Sub-20 de Tampere-2018, na Finlândia, Alison começou no atletismo ao ser convidado para fazer um teste na escola e, aprovado, foi chamado para treinar. Disse que demorou quatro meses para ir, incentivado por um amigo que treinava. Foi descoberto pela técnica Ana Cláudia Fidélis, do Instituto Edson Luciano Ribeiro.
Antes de Alison, apenas três brasileiros tinham participado da final olímpica nos 400 m com barreiras: Sylvio de Magalhães Padilha, 5º nos Jogos de Berlim-1936 - há 85 anos -, Eronilde Nunes de Araújo, 8º em Atlanta-1996 e 5º em Sydney-2000, e Everson da Silva Teixeira, 7º em Atlanta-1996.
Provas da noite de segunda-feira (2/8) - Nas eliminatórias dos 1.500 m, Thiago André terminou em 13º lugar na série 2, após o catari Abdirahman Saeed Hassan sofrer uma queda bem a sua frente. “Tentei ficar afastado, mas acabei saindo da pista e quase bati na câmara, quando um corredor caiu. Mas estou feliz pela minha participação. Agora é levantar a cabeça e continuar o trabalho”, disse o atleta.
Na qualificação do salto triplo, os três brasileiros não avançaram à final. O melhor resultado foi obtido por Mateus Daniel de Sá, que terminou em 20º lugar na classificação geral, com 16.49 (0.9). “Eu comecei a prova bem, mas faltou tranquilidade para buscar a final. Mas estou feliz por estar numa Olimpíada, algo mágico para o qual sempre sonhei e trabalhei”, disse o paulista.
Almir Cunha dos Santos, o Almir Junior, terminou em 23º com 16,27 m (-1.8). “Não dá para dizer que estou satisfeito. Trabalhei muito, muito, é difícil não só por mim porque esse sonho não é só meu, é da minha família, minha cidade, meu treinador e das pessoas que trabalham comigo”, comentou o mato-grossense.
Já Alexsandro Melo sentiu uma lesão no joelho, fez apenas um salto e ficou na 26ª colocação, com 15,65 m (0.5). “Estou realizando um sonho de infância de estar numa Olimpíada. Comecei aos 13 anos e consegui chegar aqui”, observou o paranaense.
No lançamento do dardo, Jucilene Lima e Laila Ferrer não passaram para a final na qualificação. Jucilene ficou em 6º lugar no grupo A e 15º no geral, com 60,14 m, e Laila terminou em 10º no B e 18º no geral, com 59,47 m. “Minha prova poderia ter sido um pouco melhor porque o meu objetivo era me classificar para a final”, disse a paraibana Jucilene.
Nas eliminatórias dos 400 m, Tiffani Marinho ficou na quinta colocação na série 3 e em 25º no geral, com 52.11, e não passou para as semifinais. “Minha prova foi bem agressiva desde o início. Eu dei o meu melhor, vim aqui para isso. É uma honra estar aqui. Lutamos para chegar até aqui, eu estava numa série excepcional. Estou muito grata e feliz por toda a minha trajetória para chegar a Tóquio”, disse a carioca de 22 anos.
Já nas eliminatórias dos 200 m, Aldemir Gomes Junior, Jorge Vides e Lucas Vilar não avançaram às semifinais. Aldemir ficou em terceiro lugar na série 3, com 20.84 (-0.6), Jorge em quarto na série 1, com 20.94 (-0.3), e Lucas foi sexto na série 5, com 21.31 (-0.7). “A minha saída não foi tão boa e não consegui sair bem da curva para a reta. Fico chateado comigo mesmo porque venho treinando duro. É descansar para o revezamento que tem condições de brigar por medalha”, comentou Jorge Vides.
Para a manhã desta terça-feira (3/8), no horário de Brasília, está prevista a final do salto com vara, a partir das 7:20, com a participação do campeão olímpico Thiago Braz. A partir das 7:10, estão marcadas as eliminatórias dos 110 m com barreiras, com Gabriel Constantino, na série 1, Rafael Henrique Pereira, na 4, e de Eduardo de Deus, na 5.
Às 7:15, Darlan Romani participa da qualificação do arremesso do peso, pelo grupo A. Quarto colocado no Mundial de Doha-2019, o campeão sul-americano, pan-americano e mundial militar é um dos destaques da equipe olímpica brasileira.
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