Bragança Paulista - O esporte sempre foi uma importante ferramenta de inclusão social no Brasil. Agora, muitos atletas estão seguindo os passos de veteranos como Joaquim Cruz, Agberto Guimarães, Pedro Chiamulera, Pedro Ferreira da Silva Filho, entre muitos outros, que conseguiram unir esporte e educação, estudando em nos Estados Unidos, graças ao bom desempenho nas pistas e a possibilidade de bolsa de estudos em universidades norte-americanas.
Os cursos são os mais diversos, em várias cidades, e os cursos escolhidos não são os mais comuns entre atletas como os de Educação Física e Fisioterapia. A barreirista Micaela Rosa de Mello, por exemplo, estuda Justiça Criminal e Criminologia, em Washington. Já o lançador de martelo Alencar Pereira faz o curso de Ciências Cognitivas na Universidade da Geórgia.
Alencar Chagas Pereira recebeu três convites de escolas norte-americanas em 2018, quando tentava índice para o Mundial Sub-20 de Tampere, na Finlândia. Não conseguiu ir ao Mundial por poucos centímetros, mas acabou bem colocado no ranking e recebeu os convites.
"O fato é que meus pais sempre me incentivaram a estudar, independentemente de meus resultados no atletismo. Os estudos a gente leva para o resto da vida. Em 2019 estudei seis meses na Barton Community College, em Great Bend, no Kansas, para melhorar meu inglês. Depois fui para Nebraska e agora estou na Geórgia. Em Nebraska, as coisas não deram muito certo por causa do frio – cheguei a pegar –25 graus e três meses de neve. Agora em Athens o clima é muito mais agradável", comenta Alencar.
"O Brasil tem muita qualidade de atletas e um treinador me pediu para eu entrar em contato com outros brasileiros para ver a disposição deles de estudar e competir nos Estados Unidos. É uma oportunidade de ter uma bolsa de estudos integral. Mesmo o povo americano tem dificuldades para fazer um curso superior porque o estudo aqui é caro", completa Alencar.
O curso escolhido, de Ciências Cognitivas, é multidisciplinar - inclui as áreas de filosofia, estudo de línguas, neurociência, psicologia, antropologia e inteligência artificial. "Pretendo me especializar em inteligência artificial e programação. Só o fato de morar fora do País faz todos cresceram também como pessoas", acrescenta Alencar.
Micaela Rosa de Mello garante que está conseguindo conciliar "tudo numa boa", após uma pequena dificuldade no início, quando não dominava o inglês. "A oportunidade de morar nos Estados Unidos sempre foi atrativa pra mim, por dar continuidade aos treinos e porque eu poderia estudar e conciliar os dois. A minha grade-horário gira em torno dos horários de treinos e calendário de competições. Acredito que fiz a melhor escolha da minha vida."
Alan Christian de Falchi mudou do Junior College para a Universidade de Divisão 1, de boa estrutura para treinar. "Este ano, tive muitas lesões - no peitoral, no tornozelo e na lombar. Não consegui melhorar meus resultados. Mas a questão acadêmica está bem, mudei de curso para relações internacionais. Pretendo quando me formar tentar vaga no sistema financeiro. É o meu objetivo. As condições aqui são incríveis. Experiência única que vou levar para a minha vida", disse. "Em 2023 tenho a oportunidade de tentar uma vaga na equipe brasileira para o Mundial de Budapeste. Estou trabalhando forte, com notas boas na Universidade e tratando das lesões para chegar bem às competições do ano que vem."
Ana Caroline Miguel da Silva disse que sua vida acadêmica e esportiva andam juntas. "Mas é necessário organizar a rotina de estudos - preciso manter minhas notas altas para conseguir treinar e competir pela universidade. Isso sempre foi um medo, mas até o momento está dando tudo certo. Tenho me adaptado às mudanças e sempre estudando nos meus tempos livres. A média da minha universidade é 76% de 100, então tenho que me dedicar muito aos estudos. Além do mais como atleta, espero ter o mesmo sucesso com a vida profissional que escolher", disse Ana.
Joaquim Cruz, campeão olímpico dos 800 m em Los Angeles-1984, disse que praticar esporte e estudar ao mesmo tempo são uma oportunidade de vida que os jovens deveriam ter. "E eu tive essa oportunidade e me tornei campeão olímpico. Eu falo sempre com os atletas, que querem chegar ao nível olímpico que precisam se desenvolver fora da pista para crescer também no esporte. Receber Bolsa de Estudos e crescer. É uma oportunidade da vida. Muitos atletas vêm de uma vida simples no Brasil e entram num mundo extraordinário, de alto rendimento. Ser bom estudante, bom atleta é a receita. Só pelo fato de estarem em outro país é uma oportunidade enorme para todos se desenvolverem."
Joaquim acrescenta que encontrou no colegial atletas que depois enfrentou na Olimpíada. "Conviver com atletas estrangeiros é muito importante mesmo para todo o grupo de atletas universitários", afirmou Joaquim que cursou línguas românicas em Oregon, mas não concluiu por causa da alergia que o tirou de Eugene. Fez Educação Física em San Diego.
Agberto Guimarães, campeão pan-americano nos 800 m e dos 1.500 m em Caracas-1983, trabalha no Comitê Organizador dos Jogos de Santiago, no Chile, que serão realizados em 2023, como diretor de Operações. Viveu vários anos nos Estados Unidos, onde fez cursos de francês, fotografia e Educação Física, embora seu sonho fosse, como formado de Edificações na Escola Técnica de Belém (PA), seguir o caminho da Arquitetura. Recebeu ajuda dos empresários Victor Malzoni Júnior e Fernando Nabuco para treinar nos Estados Unidos, e apesar de algumas lesões no joelho e nas panturrilhas conseguiu completar os estudos em Eugene e em San Diego.
"Quando morei com o Joaquim e o Zeca (Zequinha Barbosa) em Eugene, meu alojamento ficava a dois quarteirões da escola e a três da pista. Tudo o que a gente precisava estava muito perto. Não há sistema desportivo no mundo como nos Estados Unidos. As universidades oferecem bolsas de estudos para atletas de todo o mundo, dependendo dos resultados na High School, quando o aluno escolhe seu esporte. Espero que no Brasil convênios entre clubes e universidades ampliem essas conquistas. O maior entrave para os brasileiros é a língua. Poucos falam inglês, porque não se aprende nas escolas normais", comentou Agberto.
Os brasileiros em universidades americanas
Alencar Chagas Pereira
18/2/1999 - São José do Rio Preto (SP)
Recordista brasileiro sub-23 do lançamento do martelo (70,21 m)
Clube: UCA-SC
Universidade da Geórgia
Cidade: Athens
Curso: Ciências Cognitivas
Micaela Rosa de Mello
7/3/2000 - São José (SC)
UCA-SC
Líder do ranking brasileiro de 2022 nos 100 m com barreiras (12.98)
Universidade de Washington
Cidade: Washington
Curso: Justiça Criminal e Criminologia
Redshirt Freshman - primeiro ano de elegibilidade, mas segundo ano acadêmico.
Alan Christian de Falchi
03/04/2000 – Santo André (SP)
Líder do Ranking Brasileiro de 2022 do lançamento do disco (60,57 m)
Universidade do Alabama
Curso: Estudos Internacionais
Terceiro ano acadêmico e de elegibilidade
Ana Caroline Miguel da Silva
12/2/1999 – Contagem (MG)
Líder do Ranking Brasileiro do arremesso do peso (18,46 m)
Universidade da Geórgia
Cidade: Athens
Curso: Psicologia
3° ano de elegibilidade (tenho mais uma temporada outdoor e 2 indoor por causa da COVID - último ano acadêmico
Vitória Sena Batista Alves
11/3/1998 – São Paulo (SP)
100 m com barreiras
Clube: Associação Unindo Famílias (SP)
Universidade do Kansas
Cidade: Manhattan
Psicologia
5º ano de elegibilidade, contando com o ano da COVID e último ano acadêmico.
Caio de Almeida Alves Teixeira
21/3/2001 – São Paulo (SP)
400 m com barreiras
Clube: Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (SP)
South Plains College
Cidade de Levelland, Texas
Curso: Geologia (Earth Science)
Southmore no college, depois de acabar irei pra uma universidade onde ficarei de 2023-2025
Maria Fernanda Rodrigues de Aviz
10/4/2001 – Filadélfia (EUA)
FECAM/ASSERCAM (PR)
Universidade da Virgínia
Cidade: Charlottesville
Curso: Análise Estatística
2º ano de elegibilidade (+1 indoor por causa da COVID)
Deisiane Teixeira
18/4/2000 – Dourados (MS)
Associação Prudentina de Atletismo (SP)
Universidade de Nevada
Cidade: Las Vegas
Redshirt Junior/ (+3 anos de elegibilidade). 2025 será meu ano de graduação
A Prevent Senior NewOn é patrocinadora do atletismo brasileiro oferecendo medicina esportiva de precisão e estilo de vida para os que se ligam no esporte e apoio às competições.
As Loterias Caixa são a patrocinadora máster do atletismo brasileiro.
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