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Projeto de Lei propõe João do Pulo no Livro Heróis e Heroínas da Pátria

05.09.2023  |    300 visualizações

Dono de duas medalhas olímpicas no salto triplo, recordista mundial da prova, tem sua história envolvida no drama da desconfiança do resultado de Moscou-1980 e da amputação da perna após um acidente de carro

Bragança Paulista - Inscrever o nome de João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é a proposta do Projeto de Lei nº 3958/2023 que tramita na Câmara Federal, em Brasília. Apresentado pelo deputado Jonas Donizette (PSB-SP), o projeto foi protocolado, está sob avaliação na Comissão de Cultura e depois seguirá para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. A proposta tem apoio total da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

A história de João do Pulo é impressionante. Dono de duas medalhas olímpicas no salto triplo (Montreal-1976 e Moscou-1980), recordista mundial, sua história registra dramas como o da desconfiança do resultado nos Jogos Olímpicos de Moscou e da amputação da perna após acidente de carro. 

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, já tem a inscrição de outro triplista - Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico. João do Pulo se juntou a Adhemar e Nelson Prudêncio para juntos darem ao Brasil seis medalhas olímpicas no salto triplo.

O livro homenageia a liberdade, a democracia e todos os homens e mulheres que se sacrificaram para garantir a autonomia e atuaram pelo engrandecimento da nação. "Por sua trajetória, por honrar e enaltecer o nosso país João Carlos de Oliveira é um exemplo de inspiração e superação", justifica o deputado que anexou ao projeto - as justificativas ocupam cinco páginas - um detalhado perfil de um dos mais talentosos atletas que o Brasil já teve.

Filho de Paulo Aço, motorneiro da Estrada de Ferro Campos do Jordão, e da dona de casa Maria de Oliveira, João do Pulo nasceu em 28 de maio de 1954, em Pindamonhangaba (SP) - era o quinto filho de uma família de sete irmãos. Perdeu a mãe aos sete anos e foi criado pela avó paterna Maria Clementina. Na mesma idade trabalhava como lavador de carros. No Exército ficou 14 anos e chegou à patente de sargento.

Treinado por Pedro Henrique Camargo de Toledo, o Pedrão, João quebrou o recorde mundial júnior de salto triplo com 14,75 m em 1973. Nos Jogos Pan-Americanos do México-1975 conquistou a medalha de ouro no salto em distância com 8,19 m e foi campeão também no salto triplo, com a incrível marca de 17,89 m, quebrando o recorde mundial que era do soviético Viktor Saneyev.

Favorito ao ouro no salto triplo na Olimpíada de Montreal-1976 foi atrapalhado por uma dor forte nas costas e mesmo assim conquistou a medalha de bronze (16,90 m), superado por Saneyev (17,29 m) e pelo norte-americano James Butts (17,18 m). Também foi quarto colocado no salto em distância.

O texto do projeto relembra o drama que João do Pulo viveu nos Jogos de Moscou, na então União Soviética. Há ainda hoje um sério questionamento sobre se foi prejudicado pela arbitragem. Seu principal adversário era Viktor Saneyev, tricampeão olímpico do salto triplo, que competia em casa.

“Ter o João do Pulo na seleção era uma coisa. Era como se fosse a Nadia Comaneci. Ele andava na Vila Olímpica e, atrás dele, iam umas 100 pessoas querendo falar com ele”, relembra o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, que fez sua estreia olímpica em Moscou quando João do Pulo foi o porta-bandeira da delegação brasileira. 

Pela primeira vez na história uma edição olímpica foi disputada na União Soviética, num cenário de Guerra Fria. Os Jogos foram marcados pelo boicote dos Estados Unidos e de outros países, em protesto à invasão soviética ao Afeganistão.

As polêmicas decisões da arbitragem chamaram atenção em Moscou. E João do Pulo, o recordista mundial do salto triplo, se viu envolvido numa grande controvérsia ao ter dois de seus seis saltos anulados pela arbitragem. Um deles, segundo analistas internacionais, acima de 18 metros, o que seria o ouro olímpico e o novo recorde mundial. Após o salto, João chegou a comemorar, mas o árbitro levantou a bandeira vermelha, indicando que ele teria queimado ao pisar na tábua.

"Eu tinha certeza de que a marca, o primeiro lugar era do Brasil, porque eles não deixaram medir o meu salto, apagaram, não deixaram conferir. Eu tenho a certeza, com toda a convicção, de que eu saltei acima de 17,24 m. Deram o primeiro e o segundo lugar para a União Soviética e o terceiro para o Brasil, mas eu aceitei esse terceiro com muita mágoa, com toda a certeza de que o primeiro lugar, a medalha de ouro era do Brasil", declarou João do Pulo, em entrevista da época, divulgada pela ESPN e registrada no texto de justificativa do projeto de lei apresentado em Brasília.

João do Pulo não resistiu à frustração de ter seu salto extraordinário invalidado e chorou copiosamente no local de competição. "Nunca havia chorado por derrotas, mas naquela tarde  chorei. A festa acabou pra mim", declarou o atleta à Folha de São Paulo, após a competição, segundo o texto do projeto que tramita na Câmara.

No final, o também soviético Jaak Uudmae ficou com o ouro, com 17,35m. Saneyev foi prata, com 17,24m e João do Pulo ficou com sua segunda medalha olímpica de bronze, com 17,22 m de um dos seus saltos confirmados. No Pan de San Juan, Porto Rico, em 1979, tornou-se bicampeão tanto no salto triplo como no salto em distância. 

João do Pulo teve a carreira de atleta brutalmente interrompida em 22 de dezembro de 1981, quando sofreu um grave acidente automobilístico na Via Anhanguera, na altura do quilômetro 86, no sentido Campinas-São Paulo. O veículo Passat no qual estava com seu irmão, Francisco, e um amigo foi atingido por uma Variant.

Começando por uma operação na mandíbula, em 11 meses de internação, foram realizadas 22 cirurgias, sendo 16 delas na perna. A equipe médica travou batalhas para salvar a vida e a perna de João do Pulo - as tentativas de revascularização da artéria tibial, com uma série trabalhosa de curativos, feitas pelo cirurgião plástico Waldemar Assunção, infelizmente, não surtiram o efeito esperado.

João foi transferido para o Hospital das Clínicas, na capital paulista, e em 23 de setembro de 1982, a perna do recordista mundial do salto triplo foi amputada do joelho para baixo. Terminava ali a carreira de um dos dez melhores triplistas do século 20.

Seu recorde mundial foi batido quase dez anos depois, pelo norte-americano Willie Banks, com 17,90 m, em Indianápolis, em 16 de junho de 1985. Seu recorde brasileiro e sul-americano foi batido mais de 21 anos depois por Jadel Gregório, com 17,90 m, em Belém, em 20 de maio de 2007.

Eleito pela Federação Internacional de Atletismo como o 4º maior triplista da história, João também teve seu nome marcado na MPB: foi homenageado pelos compositores Aldir Blanc e João Bosco com a canção "João do Pulo". Depois do acidente, estudou Educação Física, fez cursos no exterior e se dedicou à política. Foi eleito deputado estadual por São Paulo em 1986 e 1990. Em seus mandatos, dedicou-se à defesa dos direitos das pessoas com deficiência ajudando muita gente.

Sargento do Exército, João do Pulo foi homenageado em vida com a Ordem do Rio Branco e as medalhas do Pacificador e do Mérito Militar. Sua atuação nos Jogos Pan-Americanos de 1975, na Cidade do México, com novo recorde mundial para o salto triplo, foi eleita pela World Athletics (então IAAF) uma das 100 performances mais bonitas do mundo.

Depois da morte, em 29 de maio de 1999, João do Pulo foi eternizado como nome de centros esportivos em Pindamonhangaba, Guarulhos, São José dos Campos, Diadema, além de praças em São Paulo e São José dos Campos. O atleta foi homenageado com um selo postal dos Correios e é o patrono de um projeto das Forças Armadas de reintegração social de pessoas com deficiência. O atleta também tem um busto de bronze no seu túmulo e uma escultura de ferro na entrada de Pindamonhangaba. Em 2020, foi imortalizado no Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil.

A Prevent Senior NewOn é patrocinadora do atletismo brasileiro oferecendo medicina esportiva de precisão e estilo de vida para os que se ligam no esporte e apoio às competições.

As Loterias Caixa são a patrocinadora máster do atletismo brasileiro.

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