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Fernando Elias, o "demolidor de recordes" da marcha atlética, aplaude Mundial no Brasil em 2026

15.04.2025  |    237 visualizações

Aos 90 anos, ex-marchador está feliz com o reconhecimento da modalidade a que se dedicou por mais de 40 anos; Mundial será disputado em 12 de abril do ano que vem, em Brasília (DF), feito inédito para o atletismo do hemisfério sul

Na marcha atlética, a batalha da cada atleta é do corpo contra a mente. Exige concentração por horas, para competir dentro da regra que basicamente determina o contato obrigatório de parte do pé com o solo, por quilômetros, e mais que isso: resistência ao desgaste físico a que o marchador se submete, superando dores e a vontade de desistir.

O paulistano Fernando Elias, que completará 90 anos em 22 de setembro e considerado um fenômeno da prova que disputou por quatro décadas (até 2013), diz que agora “baixou” de 1,84 m para 1,80 m e ganhou "uns cinco ou seis quilos", chegando aos 60 kg. Come seu "arroz com feijão, salada de almeirão e um pedaço de carne cozida", acompanha todas as competições esportivas mostradas pela tevê e segue na expectativa pelo Mundial de Marcha Atlética por Equipes confirmado para 12 de abril do ano que vem, em Brasília. 

Se hoje, com todo o aparato científico – que vai de hidratação e tecnologia de calçados esportivos até apoio de patrocinadores –, a marcha atlética ainda é considerada uma prova para poucos, há meio século o número de competidores era bem mais restrito.

Por volta dos anos 1970, um desses marchadores – Fernando Elias –, passaria a ser conhecido como um fenômeno que derrubava recordes atrás de recordes: paulistas, brasileiros, sul-americanos. Mesmo à beira do limite das exigências sobre o corpo e a mente, ele havia se apaixonado pela modalidade. "A marcha é muito dura na parte física, mas 70% da prova dependem mesmo é da preparação mental. A cada prova que eu terminava, era como se um peso saísse de cima de mim", define.

Morando na Mooca, bairro de São Paulo, ele foi incentivado à prática esportiva pelo amigo Félix, goleiro da histórica seleção brasileira de futebol da Copa do México-1970. Fernando começou pelas corridas, como a tradicional São Silvestre. Depois, já morando em Santo André e funcionário-atleta da Pirelli (onde ficou por 21 anos), seguia todo fim de semana para Santos, porque a cidade promovia suas provas de pedestrianismo (como se dizia à época) nos sábados à noite. E ele não gostava. "Perdia tempo de sono", explica, porque só conseguia chegar de volta em casa na madrugada do domingo. Quando assistiu pela primeira vez a uma prova de marcha, diz que não teve dúvida: "Vou fazer isso aí!".

As corridas ficaram para trás. Passaram a ser limitadas no máximo a tiros de 200 m, 400 m, para ganhar velocidade na marcha, explica Fernando, que então decidiu aproveitar parte do terreno de casa para montar a sua pista de treino – com apenas 24 metros de extensão para voltas que somavam dezenas de quilômetros. "Treinava ali. Como o espaço era bem pequeno, era melhor para acertar as passadas. Fui seguindo devagarzinho, sozinho... E subindo na Pirelli, porque incentivava a criançada. Cheguei a montar turmas do mirim ao adulto."

Fernando destaca que estabeleceu uma estratégia própria: "Nunca saía forte, na frente. Nunca puxei prova. Ia desenrolando de outras maneiras, aguardando momentos para aproveitar: 20 km, por exemplo, eu dividia mentalmente em quatro partes e ia tirando a diferença dos outros", observa. "Tinha hora que arriscava um, dois, três metros mais para a frente, pegando os adversários. Procurava sempre ficar muito concentrado para não errar, me superar e terminar. Sem pensar em desistir. E eu ainda era melhor nos 50 km do que nos 20 km. É... Pode ser talento natural, sim... Eu acho que nasci para isso. Para a marcha."

Mesmo sem chegar a uma Olimpíada, como sonhava (vaga que escapou em um Sul-Americano), Fernando Elias ficou conhecido como "O Demolidor de Recordes", pelas dezenas de quebras de marcas paulistas e brasileiras que bateu, com 33 homologadas (apenas em 1973 venceu 30 provas oficiais).

Segundo cálculos que fez em 2005, já havia percorrido mais de 21 mil quilômetros – ou meia volta na Terra –, e ainda seguiu na modalidade por mais oito anos. "Cheguei a competir com o Caio Bonfim. Na mesma prova", conta. "Eu só conseguia competir aqui pelo Brasil, perto. Mas ele já consegue viajar muito. Para o marchador, é importante, assim como o tempo de vida de atleta, porque a gente vai pegando mais e mais experiência para usar na estratégia de prova. Fico feliz pelos resultados do Caio e pela marcha estar ganhando mais visibilidade, por estar ficando mais conhecida."

Na edição de 2024 do Mundial de Marcha Atlética por Equipes, em Antália, na Turquia, além dos 10 km sub-20 e dos 20 km para mulheres e homens, foi disputado o revezamento misto (prova que não estará no programa olímpico de Los Angeles-2028). O resultado por equipes sai da soma dos três melhores atletas de cada país, que pode ter até cinco inscritos, no caso dos 20 km; nos 10 km, são no máximo três, com a soma dos dois melhores.

Na categoria principal masculina, venceu a Espanha, seguida de Japão e Itália; na feminina, China, Peru e Espanha (individualmente, a brasileira Érica Sena foi bronze (1:29.22), atrás da chinesa Zhenxia Ma (1:27.55) e da campeã peruana Kimberly García (1:27.55s). Caio Bonfim e Viviane Lyra conquistaram a vaga para o revezamento de Paris, onde ficaram na sétima colocação da prova, disputada na distância da maratona (42,195 km) e dividida em quatro etapas, alternadas entre os dois atletas.

A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) conduziu o projeto da candidatura do Mundial de Brasília para 2026 juntamente com o Governo do Distrito Federal, a Federação de Atletismo do Distrito Federal e a Caixa, com apoio do Governo Federal e do Comitê Olímpico do Brasil (COB).  

As Loterias Caixa são a patrocinadora máster do atletismo brasileiro.

Assessoria de Comunicação: Heleni Felippe (helenifelippe@cbat.org.br) e Maiara Dias Batista (maiara@cbat.org.br). Entrevista e texto: Denise Mirás

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