Uma façanha. Foi o que Robson Caetano da Silva fez na Olimpíada de Seul, em 1988. Nos Jogos Olímpicos que ficaram marcados pela vergonha do doping, o Brasil teve muitos motivos para se orgulhar: o velocista carioca foi (e ainda é) o primeiro brasileiro a estar nas finais dos 100 m e dos 200 m em uma mesma edição olímpica, e conquistar o bronze na disputa da prova mais longa. Essa é a única medalha do país em provas de velocidade.
Nascido na comunidade de Nova Holanda, zona norte do Rio, Robson se encontrou no atletismo no fim da década de 1970. Descoberto pela professora Sonia Ricetti, foi primeiro para o salto em distância. Mas os bons resultados nas provas de 100 m e 200 m, ainda na categoria juvenil mas competindo contra adultos, fizeram dele um velocista.
A estreia olímpica de Robson foi nos Jogos de Los Angeles-1984, com 19 anos. Ele disputou os 200 m (parou na semifinal) e estava na equipe do 4x100 m que foi finalista e ficou em 8º lugar.
"Quando cheguei na minha primeira Olimpíada, queria absorver o máximo de informações para, na Olimpíada de 1988, estar muito mais embasado. Eu acho que vale muito a pena mandar atletas mais novos para conquistar experiência, porque é um universo completamente diferente. Tudo fica mágico. Então, quando chegou em 1988, eu estava pronto."
A temporada de 1988 foi realmente especial. Em maio, na disputa do Campeonato Ibero-Americano na Cidade do México, o brasileiro largou para a final dos 100 m e, ao cruzar a linha de chegada, olhou para o placar: 9.99. Robson Caetano seria o primeiro sul-americano a tempo que reinou como recorde sul-americano e brasileiro por 35 anos, até que Erik Cardoso fez 9.97 em 2023.
O resultado colocava o brasileiro definitivamente entre os grandes da prova mais rápida do atletismo, na Olimpíada que seria disputada em setembro. Os 100 m viviam um intenso embate, dentro e fora das pistas, especialmente entre o americano Carl Lewis e o canadense Ben Johnson. As marcas ficavam cada vez mais rápidas, assim como aumentavam as suspeitas sobre o uso de substâncias proibidas para a melhora das performances.
Robson estreou Estádio Olímpico de Seul em 23 de setembro. Fez a série eliminatória em 10.37 e depois correu as quartas em 10.24. No dia seguinte, igualou o resultado na semi. Havia garantido a vaga na final olímpica. Da raia 1, disparou para fazer 10.11, e viu Johnson ganhar o ouro com espantosos 9.79. O resultado não sobreviveu muitos dias: na madrugada de 27 de setembro, foi anunciado o doping do canadense, que perdeu o título – Robson terminou, assim, em 5º lugar.
O brasileiro teve pouco tempo de descanso. Já tinha disputado duas baterias eliminatórias dos 200 m (21.12 na eliminatória e 20.41 nas quartas) em 26 de setembro quando estourou o escândalo dos 100 m. Voltou à pista, em 28 de setembro, e fez sua própria história: correu 20.28 na semifinal e, na decisão, conquistou o bronze, com 20.04.
"Foi um embate desleal. Ter chegado na final dos 100 m, para mim, foi uma vitória extraordinária. Não só minha, mas do Brasil. Porque eu tinha pedido para os brasileiros fazerem uma corrente positiva. E aí foi inédito: na mesma Olimpíada, o país chegar na final dos 100 m e dos 200 m", recorda Robson.
"A medalha dos 200 m tem que ser muito celebrada. Foi uma medalha individual, uma medalha do antidoping contra o doping, contra atletas que se valeram disso para ganhar vantagem. Isso é lembrado até hoje. A partir dali, Robson Caetano deixou de ser nome de um atleta para virar uma marca. É uma recompensa, uma felicidade enorme."
Robson se manteve como um dos principais velocistas brasileiros por mais dois ciclos olímpicos. Em Barcelona-1992, sua terceira Olimpíada, voltou à final dos 200 m, e terminou na 4ª colocação (20.45). "Infelizmente, eu estava pronto para ser medalhista olímpico de novo, mas algo aconteceu. Erramos a mão no treino e acabei ficando em quarto. Chorei muito." Ainda assim, disputou a semifinal dos 100 m e ficou em 4º no revezamento 4x400 m.
O reencontro com o pódio veio quatro anos mais tarde. A um mês de completar 32 anos, Robson conquistou mais uma medalha de bronze, dessa vez, no revezamento 4x100 m (38.41). Uma equipe que mesclava a experiência dele e de Arnaldo Oliveira, que também estava em sua quarta Olimpíada, e os jovens Edson Luciano Ribeiro e André Domingos, quase dez anos mais jovens.
"A Olimpíada de 1996 foi a consagração, e um tapa de luva de pelica em muita gente que não acreditava que a gente pudesse chegar a uma final olímpica. A gente se uniu e fizemos por valer essa união. Eu, Arnaldo, André e Edson – foi incrível!", concluiu.
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