Alison dos Santos (Pinheiros-SP), o Piu, encerrou seu segundo ciclo olímpico repetindo o primeiro: com um lugar no pódio. O brasileiro de 24 anos conquistou o bronze nos 400 metros com barreiras nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, nesta sexta-feira (9/8), com a marca de 47.26. Ele é o 10º nome do atletismo brasileiro a ter duas medalhas olímpicas – sua conquista é o 21º pódio da modalidade na história dos Jogos.
"Foi uma sensação de alívio, de felicidade nesse momento. Essa competição foi um pouco pesada pra mim no psicológico. Eu estou bem, preparado para correr bem mais rápido do que eu corri, mas o pódio foi difícil nessa aqui", afirmou Alison.
"Passei por uma experiência de realmente estar correndo, mas não aproveitando o que eu estava fazendo. Então, poder chegar, recuperar um pouco da minha essência, e chegar na final e dizer: 'Estou bem, tranquilo, leve, vou entregar 100% e me divertir, aproveitar barreira por barreira'... Foi o que eu fiz", disse o medalhista.
O pódio olímpico de Paris teve os mesmos nomes de Tóquio, três anos atrás. A diferença está no campeão: o norte-americano Rai Benjamin, prata no Japão, venceu no Stade de France com o tempo de 46.46, igualando seu melhor resultado na temporada, que também é o melhor do ano. Ouro em Tóquio, o recordista mundial Karsten Warholm, da Noruega, agora foi prata, com 47.06.
Os três atletas chegaram na Olimpíada como os mais rápidos da temporada e também os mais rápidos dos 400 metros com barreiras em todos os tempos. Por isso, era uma das finais mais esperadas do atletismo em Paris.
Para chegar à final, Piu passou por dois sustos. O primeiro, na eliminatória, em que não viu outros concorrentes chegando e passou em terceiro lugar na sua série, com 48.75.
Na semifinal, a tensão aumentou: o brasileiro não conseguiu qualificação direta para a final, garantida apenas aos dois primeiros da série. Ele foi o terceiro atleta da primeira bateria, vencida por Warholm, e teve que esperar a conclusão das duas séries seguintes. Ao fim, respirou aliviado: foi o mais rápido dos terceiro colocados, e o resultado de 47.95 foi o quarto melhor tempo da etapa.
Na final que fechou o 9º dia de competições no Stade de France, às 21h45 de Paris, 16h45 de Brasília, Piu largou para o pódio da raia 3. A primeira metade da prova foi bastante equilibrada, com os três medalhistas se destacando na parte final. Piu fez uma parte final forte e garantiu o bronze.
"Foi uma prova boa, em que eu consegui correr, ser agressivo onde tinha que ser agressivo. O tempo importa, mas nessa situação, é medalha. Estou orgulhoso da temporada. Poderia ter corrido melhor, mas é o momento. A gente está aqui para se divertir", disse Piu.
"Foi muito lindo estar aqui, participar desses Jogos e ver quem estava comigo nas dificuldades, pessoas que estavam comigo me apoiando quando eu não consegui correr o que eu queria me dizendo: você consegue, mantenha a cabeça no lugar. E só dizer que Paris virou baile", afirmou o brasileiro, que fez uma declaração de amor ao esporte.
"O atletismo é o meio que eu uso para conhecer pessoas, o mundo, ter várias experiências. É a minha vida. Eu vivo atletismo 24 horas. É o que eu uso para aprender mais, buscar coisas novas. É muito bom poder usar isso como meio para conquistar coisas boas, dar orgulho para a família e para os amigos".
A medalha olímpica coroa uma temporada de bons resultados, depois de um 2023 frustrante, em que Piu sofreu com uma lesão no joelho direito e precisou passar por cirurgia. Em 2024, Alison venceu cinco das seis etapas da Diamond League que disputou – ele lidera a disputa do circuito, que será decidido nos dias 13 e 14 de setembro, em Bruxelas, na Bélgica.
Piu abriu sua participação com vitória em Doha (QAT), com 46.86, no dia 10 de maio. Em Estocolmo, na Suécia, dia 2 de junho, ganhou com 47.01. Correu 46.63 na etapa de Oslo (NOR), em 30 de maio, a segunda melhor marca do mundo no ano, derrotando o recordista Karsten Warholm em casa. Em 7 de julho, venceu a etapa da Paris com 47.78, e no dia 12 de julho, foi o terceiro colocado na etapa de Mônaco, prova que reuniu Warholm e Benjamin.
Piu ainda correu duas provas de 400 m rasos, bem no início na temporada, nos Estados Unidos. A primeira, em 30 de março, marcou sua estreia na temporada: no Pepsi Florida Relays, em Gainesville, Flórida (EUA), fez 45.25. No Tom Jones Memorial, também em Gainesville, em 13 de abril, fez 45.25 novamente.
Almir dos Santos Júnior (Sogipa-RS), que recolocou o Brasil em uma final do salto triplo após 12 anos, terminou a prova na 11ª colocação, com 16,41 m (-0.7). Na qualificação saltou 17,06 m (0.6).
O atleta de 30 anos chegou à sua segunda Olimpíada após uma importante mudança: em 2022, modificou sua técnica de salto, invertendo as pernas (esquerda-direita-esquerda), o que não é um ajuste fácil. Também trocou o Brasil por Portugal, indo treinar no Centro de Treinamento de Jamor, em Lisboa, com o técnico português José Uva.
"Hoje não foi o que eu esperava, mas eu estou me sentindo cada vez melhor. Eu pequei pelo excesso, eu não tinha cartucho pra segurar, porque eu precisava acertar. Acabei arriscando, tive alguns erros técnicos, eu preciso saltar ainda um pouco controlado, mas não tinha tempo para isso, é Olimpíada", disse o triplista.
Mais cedo, o revezamento 4x400 metros masculino conquistou o melhor resultado da temporada (3:00.95), mas ficou em 6º lugar na série e não avançou para final, com Lucas Carvalho, Lucas Vilar, Douglas Mendes e Matheus Lima.
"Esse é um revezamento de futuro, com potencial. A gente fez o SB, mas não foi suficiente para a final. Com o tempo de hoje seríamos medalhistas no Mundial de Revezamentos, mas aqui é Olimpíada. A gente sai de cabeça erguida, com um aprendizado incrível, e ano que vem tem mais", disse Matheus Lima (Pinheiros-SP), que foi semifinalista dos 400 m com barreiras.
Os 10 atletas com duas medalhas olímpicas no atletismo brasileiro
1) Adhemar Ferreira da Silva - salto triplo - ouro em Helsinque-1952 e Melbourne-1956
2) Nelson Prudêncio - salto triplo - prata na Cidade do México-1968 e em Munique-1972
3) João Carlos de Oliveira - salto triplo - bronze em Montreal-1976 e Moscou-1980
4) Joaquim Cruz - 800 m - ouro em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988
5) Robson Caetano - bronze nos 200 em Seul-1988 e no 4x100 m em Atlanta-1996
6) André Domingos - 4x100 m - prata em Sydney-2000 e bronze em Atlanta-1996
7) Edson Luciano - 4x100 m - prata em Sydney-2000 e bronze em Atlanta-1996
8) Vicente Lenílson - 4x100 m - prata em Sydney-2000 e bronze em Pequim-2008
9) Thiago Braz - salto com vara - ouro no Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020
10) Alison dos Santos - 400 m com barreiras - bronze em Tóquio-2020 e em Paris-2024
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